A Covid-19 o Elefante os Cegos é uma adaptação da fábula “O Elefante e os Cegos” publicada no blog Pense Bem (aparentemente este blog está desativado) e adaptada ao contexto da Gestão da Crise do Covid-19.
O Elefante e os Cegos
“Chegou um grande circo na cidade. Quatro cegos, passeando juntos, aproximaram-se do local onde o domador estava cuidando de um dos elefantes do circo. Pararam e perguntaram ao domador se podiam tocar no animal, ao que ele concordou.
Um deles, mais alto, de braços erguidos, bateu na orelha do elefante; outro, encontrou a barriga; outro, apalpou a perna e o quarto segurou a tromba. Logo depois voltaram ao seu passeio satisfeitos, porque agora sabiam o que era um elefante. E foram conversando, até que pararam numa pracinha, sentaram-se e começaram a discutir sobre o elefante:
– Elefante é apenas uma espécie de ventarola grande, felpuda no meio, e rugosa – disse o cego alto.
– Nada disso – retrucou o que examinou a tromba – eu examinei cuidadosamente o bicho. Trata-se de um tubo maleável, pesado, forte e que se movimenta o tempo todo.
– Tudo errado! – falou o que tocara na perna. Eu constatei que é uma pilastra firme e grossa.
– Eu acho que vocês estão loucos – corrigiu o cego que apalpara a barriga – não perceberam que o elefante é como um enorme casco de navio, áspero e vivo?
E as discussões foram até altas horas, sem, é claro, chegarem a qualquer conclusão.”
Esta fábula tem muita semelhança com a Gestão da Crise do Covid-19 que estamos atravessando com todos os seus desdobramentos. Vejamos …
O Primeiro Cego – O Covid-19
Princípio básico da Gestão de Crises – O que sabemos de fato?
– Que o covid-19 surgiu inicialmente na China, mais precisamente na cidade de Wuhan e que lamentavelmente causa fatalidades.
O que mais sabemos com certeza?
– Mais nada. Não sabemos se é um vírus natural de origem animal, se é um vírus que “escapou” de algum laboratório ou se é uma arma biológica. Serviços de inteligência de vários países tem feito sérias acusações contra o governo chinês pela falta de transparência em todo o trato do covid-19.
Por que o vírus afetou uma parte da China e não a capital Pequim por exemplo? Não sabemos.
Qual a taxa de mortalidade? Não sabemos por vários motivos. Há vários relatos de supernotificação e deve haver muito mais casos de subnotificação. Muitos infectados são assintomáticos. Pegar o número das supostas fatalidades e dividir pelo número de infectados subnotificados para calcular a taxa de mortalidade é um absurdo sem tamanho só menor do que o de multiplicar esta taxa inflada de mortalidade pela população brasileira e colocar nas manchetes que “Milhões Morrerão de Covid-19 no Brasil”.
Existem muitas outras perguntas sem respostas.
O Segundo Cego – Formas de Tratamento
Novamente o princípio básico da Gestão de Crises – O que sabemos de fato?
– Que não há tratamento cientificamente comprovado para o Covid-19.
Nem com relação à quarentena e distanciamento social há consenso entre cientistas e autoridades de saúde. A OMS uma hora orienta a quarentena e/ou o distanciamento social e em outra alerta para os problemas econômicos e o aumento no risco de fatalidades para os mais vulneráveis.
A cloroquina e sua variações têm sido usada no tratamento do covid-19 aparentemente com bons resultados (vídeo Itaú BBA e Prevent Senior) embora alguns profissionais da saúde alertem sobre os possíveis efeitos colaterais. Há outro tratamento com resultados também promissores baseado em corticoides, o Ministério da Ciência e Tecnologia está desenvolvendo outras pesquisas etc. enfim o mundo inteiro busca um tratamento e uma vacina que sejam comprovados cientificamente como eficazes.
Um termo que tem sido muito utilizado nestes dias é a “Escolha de Sofia”. Um paciente com covid-19 em estado grave, onde o tratamentos convencional com entubamento e respirador artificial não está funcionando e um tratamento alternativo que vem se mostrando promissor, porém sem comprovação científica, qual seria a sua “Escolha de Sofia”?
O Terceiro Cego – O Covid-19 não é Nosso Único Problema
O tema Covid-19 está tão em evidência que fica a impressão de que este é o nosso único problema. Continuamos com todos os problemas de saúde e de falta de saneamento básico de um país em desenvolvimento. Com a quarentena a quantidade de vítimas de acidentes de trânsito diminuiu porém muitos outros aumentaram e continuarão aumentando: violência doméstica, armas de fogo, síndrome do pânico, depressão … sem falar dos já conhecidos ou previstos como a dengue, sarampo, H1N1, o próximo surto de gripe que virá etc.
Um ponto de atenção importante é que todas as fatalidades decorrentes do Covid-19 até o momento não ocorreram por conta do colapso no sistema de saúde, público ou particular.
O Quarto Cego – As Consequências da Quarentena na Economia
Um argumento muito utilizado pelos defensores da quarentena é que negócios falidos podem ser recuperados enquanto vidas não.
Isoladamente esta frase é absolutamente verdadeira apesar de que no nosso dia a dia pré-Covid-19 pessoas já morriam por falta de atendimento médico principalmente no sistema público de saúde.
Num contexto mais amplo o colapso na economia gera indiretamente muitas mortes, com comprovação científica.
A previsão de queda do PIB brasileiro já está em quase 3% (2,97%). O FMI alerta que poderá ser de 5%. A previsão no início de 2020 era de um crescimento de 2,4%. Portanto, vamos deixar de crescer 2,4% e afundar em mais 3% (ou 5% segundo o FMI). Um prejuízo de pelo menos 5,4%, por enquanto. Em 2018, a queda de 4% no PIB do Brasil provocou a perda de 2 milhões de empregos formais, muitos não recuperados até hoje.
O relatório “Effect of economic recession and impact of health and social protection expenditures on adult mortality: a longitudinal analysis of 5565 Brazilian municipalities” aponta, resumidamente, que a cada 1% no aumento na taxa de desemprego há um aumento de 5,34% nas mortes de pessoas com mais de 60 anos, principal grupo de risco da Covid-19.
Ainda, segundo este relatório, a recessão de 2012/17 causou 31.415 mortes adicionais.
Moral da história 1:
(do blog https://pensebem.blog/ – aparentemente desativado) – quando não nos permitimos observar toda uma situação ou pessoa (visão sistêmica), podemos limitar nossa compreensão por ver apenas parte (visão periférica). Cada ponto de vista é a vista sobre um ponto. Nossa compreensão se amplia quando analisamos cuidadosamente, procurando ser objetivos e transparentes na comunicação.
Moral da história 2:
(da gestão de crises) – para mitigar as consequências de qualquer tomada de decisão há de se ter uma visão holística com informações e dados confiáveis.
Faça a sua “Escolha de Sofia”: distanciamento social, distanciamento vertical, quarentena …